sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Reascender


Enxergar colorido é bom. Sentir os olhos piscarem e ver a cor explodir. Ver o mundo tomar cor é como se o ar de repente parecesse mais leve e banhasse de felicidade. Indescritível. Mesmo eu, tão cheio de palavras, encontro-me aqui perdido na emoção, calado. Pensamentos vêm e vão, e para onde vão é sempre tão difícil saber.
Pensamentos vão até o coração. Mais difícil encontrar. O coração se esconde, foge, brinca com as feridas da alma e no fim sorri calmamente, mostrando o lugar certo de estar. Até lá ele foge, volta, bate, machuca, mastiga e amarga, para enfim dar-nos o mais doce sabor do amor.
Melhor que qualquer sorriso, um olhar. Bastam algumas palavras pro mundo reascender em primavera, ou mesmo um piscar de olhos, uma ideia, a existência. Sentimentos afloram, e quase sempre aparece a pessoa certa.
É amar tão profundamente, a dor na alma. A dor que dilacera, incomoda, arde, mas engrandece e satisfaz. Pulsa e suplica por míseras palavras, pede pela reciprocidade, já conquistada na imaginação. Iludir e deixar-se dominar.
A fera. Sentir-se assim, aprisionado pela distância. Tão livre e preso, amarrado em outro lugar. Um lugar de lembranças imaginadas, alegres. É onde quero estar e estou em pensamento, um outro lugar onde tudo tem mais cor. Um lugar onde guardo o meu coração, na confiança.
Agora amo. Amo quando penso que não amei, mas amo sempre. Assim passa a vida de um apaixonado pelo amor, a inconstância, a dúvida e o medo. Medo de não sentir o coração acelerar de novo, medo de não assumir de novo para o mundo, que ainda há amor em cada parte.
Vivo de amores cultivados. Amores que vivo, sinto, respiro e intensifico em cada ponto. O meu amor e maneira de amar. Amo os menores detalhes, sorrisos, gestos, um piscar de olhos e palavras. Detalhes sempre foram a diferença.
Ainda hoje, depois de tanta vida percorrida, ainda não sei o que sinto. Carrego na alma a minha velhice de ouvidos e mantenho todo o vigor para amar novamente. Sou fênix que vê o fim de tudo, morre e renasce em chamas.
Perdoo erros, mas não os aceito se são previsíveis. Mesmo que um erro tome de súbito a minha vida, não deixarei de ser eu. Da mesma forma que o coração vai e vem, sou num sorriso, a porta do coração.
Tomado em mim, penso e penso sozinho. Mesmo que o mundo inteiro queira, se for só eu, serei só eu. Estou pronto para as pedras sempre. Seguro as que posso e devolvo com o meu silêncio, a prova da existência apagada, o esquecimento do que foi vivido.
Os mesmos braços que sustentavam a cabeça, hoje estão estendidos e sorrindo, esperando o encaixe certo da peça. Amando por inteiro.

Felipe Peixoto

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