domingo, 5 de setembro de 2010


De olhos fechados senti a luz bater em meu rosto. Mesmo o vento parecia entristecer ao passar por mim. A poeira brilhava e o fim de tarde estava quente. Quente o suficiente para acalmar os ânimos e fazer o por do sol muito mais interessante. Por acontecer todos os dias, ele nunca foi bonito, nem mesmo me importava vê-lo ou não; era só luz. Naquela tarde a luz que banhava meu rosto parecia ter outro sentido.
A luz que doía em meus olhos, me fazia senti-los, já que as lágrimas que quis verter, não foram capazes de acompanhar as palavras, reviradas no estômago.
O cabelo estava sujo, eu estava sujo. Sentia-me sujo de erros, decepções. Senti falta das lágrimas. Eram o meu conforto, a prova da dor e da existência de sentimentos. Agora eu era uma rocha. Frio e estupidamente maltratado para nem mesmo me sentir rocha, nem mesmo para sentir.
Mesmo o coração pulsando, de que adianta possuí-lo sem razões para me manter vivo? É difícil encontrar-se. Melhor morto do que morto em mim, a desistência do eu. Meio morto aqui estou, vendo a luz. Uma pedra iluminada, cercada de desejos, sentimentos, aspirações e que infelizmente o mundo deixou-o ser somente pedra. Uma pedra atirada a vários meios de caminho.
Uma pedra que atrapalha. Gera admiração, mas no fundo é só uma pedra, uma pedra rachada. O silêncio de uma vida, o silêncio da decepção, o silêncio da omissão. A luz aquecia-me, mas por dentro eu congelava. Queria apenas me despedaçar naquela tarde, ser pó. Como pó seria quase impossível atrapalhar caminhos e nem mesmo o meu próprio caminho seria traçado, seria levado por ele. Senti-me coisa. Ora parecia importante, ora apenas mais uma pedra no meio de tantos objetos. Ser uma pedra no meio de objetos úteis e ser só uma pedra, apenas existir.
Acabou a luz, o sol dava espaço a escuridão como eu preenchia da mesma, o espaço vazio. O vento continuava triste e eu banhei-me de lágrimas, que almeijei e que agora eram a minha luz.

Felipe Peixoto

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